06 julho 2008

Óculos.


Em 2001, fui pra Curitiba me encontrar com a Alice, que estava no Brasil.
Ficamos na casa da Valéria (obrigada Val! ).
Durante o dia era aquela rotina: sair , conversar e matar a saudade.

Numa dessas saídas, como não podia deixar de ser, fomos ao Muller.
Entramos numa loja pra comprar cuecas. Feita a compra fomos em uma joalheria, a Alice queria arrumar um colar e talvez lá eles o fizessem.
Não faziam consertos.

Acontece que durante a conversa com a vendedora, a Alice resolveu olhar alguns óculos então.
Apesar de, nesta ocasião, já possuir e portar um de outro modelo, de aparência e funcionalidade semelhante aos expostos ali, não sentindo-se satisfeita resolveu experimentar outros da loja.
Tremenda fria!
Olha um, tira, põe outro, "não", "sim", até que - ufa!- fomos embora.

"Embora" significa uma passadinha no banheiro.
Depois...
Elevador.

Quando nós estavámos dentro do elevador, a Alice sentiu falta de seus óculos, aquele que acabara de ganhar: "Apesar de já possuir e portar um óculos de outro modelo,..." como citei acima.

Então voltamos para a joalheria, fora o último local que estivemos com ele.
Voltamos pra buscá-lo.

Ao entrarmos, novamente, na loja a vendedora veio ao nosso encontro, a Alice disse que tinha esquecido o óculos dela ali e só voltou para buscar...
Mas a atendente disse que não tinha nenhum óculos ali, somente os da loja, que estavam à venda.
"HUM...como assim?"- pensamos, a Alice e eu.
Insistimos que ali foi o último lugar que estivemos e certamente...
"HUUMM...COMO ASSIM?! - pensou a vendedora.
Clima chato.
E nem deu tempo para outras palavras ou perguntas, ela foi logo dizendo:
"Tá pensando que peguei seus óculos? Sua ...(não vale a pena repetir) e você pensa que eu preciso pegar seus óculos sua...(eu disse! não vale a pena repetir, mesmo!)"
Eu arregalei os olhos, e disse:
"Alice ela está te ofedendo, isso é ofensivo."
Minha fala se deu em tom de informação, porque a Alice não estava entendendo o que ela estava dizendo.

Do fundo da loja saiu outra vendedora (estavam em bando!) e pediu para que sua colega se acalmasse, ela podia resolver isso.
Aquela que estava mais nervosa começou a chorar e foi para o fundo da loja (uma espécie de banco de reserva?).
A Alice repetiu o motivo da sua volta à loja mas, obteve a mesma resposta: " ali não tinha nenhum óculos, a não ser os..."

O que fazer?
Bem, "agora é que são elas!".:

Diante da importância de alguns valores que a Alice estabeleceu para aquele objeto, impossível deixar pra lá e ir embora.
"Quero ver as imagens na camera." Disse, apontando para o aviso:
"Sorria, você está sendo filmado."
Porque não me avisaram antes? Arruma o cabelo...brincadeiras à parte mas me dá licença para um comentário?:
"Sorria", é meio estranho né? você consegue imaginar a diminuição/anulação de pena para o sujeito que obedecer a este pedido, e for identificado nas imagens em algo ilícito, porêm sorrindo?
Logo: "você esta sendo filmado" já é informação suficiente e dependendo das circunstâncias, apenas um desenho basta, para ter o efeito desejado: vijiar! (Foucault)*.

Continuando, reescrevo a última fala da Alice:
"Quero ver as imagens na camera."
"Não tem como senhora, (Agora, não sei porque a Alice entendeu como ofensa!) Nós não temos camera, só o aviso." (!!!)

Situaçãozinha!!

"Tá! Então eu quero falar com sua gerente."
Neste ponto dos diálogos, os fatos já estavam tão corretos, na nossa mente, que nem passava pela cabeça outras possibilidades sobre o sumiço dos óculos.
O jeito, era falar com essa gerente, da loja que: nós entramos pra resolver um problema - do colar - e saímos com outro maior!

"Bem eu vou pedir pra senhora (tá brincando com a sorte! senhora não!) ligar neste número e falar com a dona..."
"Ok."
Saímos do Muller.

"Marilia eu não vou perder esses óculos .."
Frase repetida pela Maria Alice inúmeras vezes.
Assunto de uma semana.
Toda a semana que ficamos em Curitiba.

Ao chegarmos na casa da Val logo colocamos ela "a par" do acontecido, foi quando descobrimos:
"Mas a gerente é minha amiga! Vamos falar com ela."
Falamos. E esta conversa resultou em mais conversas e por aí a fora.
Os óculos até então nada de aparecerem.
Até que um dia:

"Alice, seus óculos foram encontrados! Estão na loja de cuecas."

Corre pro Muller.

Chega na loja:
"Oi eu vim buscar meus óculos..."
"Ah! aqui está a sacola."Disse a vendedora, da loja de cuecas, que parecia não pertencer ao time daquelas da joalheria.
"Mas como meus óculos estão aqui?Não entendo! As cuecas ?Mas...peraí! Só estão as cuecas!"
"Sim, olha seus óculos estão com a senhora que encontrou eles, ela trabalha no útimo andar do estacionameto, num lava carros. Ela quer que você os pegue com ela. Só deixou a sacola com as cuecas."

Agradecemos, e fomos.
Elevador.
Desce!
Encontramos com a senhora:
"Oi, eu vim buscar meu óculos..."
"Sim te reconheci! Estou com eles faz uma semana...desde que me encontrei com vocês no banheiro do shopping, deixaram a sacola em cima da pia, eu tentei chamar quando vi, mas tinham entrado no elevador, então eu levei a sacola até a loja de cuecas, mas os óculos eu não quiz deixar junto, poque eu vi que eram bons, e sabe como é?... Mas ,então você sabe que eles foram comigo até a igreja? É. Eu sai do serviço e tinha oração na igreja que eu frequento...
(Aham! a gente estava de boca aberta! Quanto juízo errado! Quanta fala sem motivo! A vendedora...! Esses pensamentos eram em conjunto: entre a Alice e eu!)
...e eu orei assim: "Deus me faz encontrar aquelas moçinhas para devolver o que não é meu, eu não quero ficar com o que não me pertence"...daí eu levei pra casa e minha filha até provou eles e ela me disse que esses óculos eram caros, e daí que eu pedi mais ainda pra te encontrar."

"Meu Deus...nossa! eu acho que eu tenho que pedir perdão pra alguém...a senhora não acredita ...olha eu tenho aqui um dinheiro, eu quero que a senhora aceite, por favor "Disse a Alice, e quase que nos mete em outra fria, a princípio soou como uma ofensa.
"Não minha filha! eu não quero não! eu guardei por que eu não fico com o que não é meu!"
Mas a Alice insistiu e se explicou:
"Sei disso, mas eu queria lhe agradecer pela gentileza...Olha, quanto a senhora ganha por carro? Deixa então eu lhe pagar uma limpeza, ok?"

E a Alice deu vinte doláres, pela limpeza do carro imaginário - porque não tinha real - para aquela senhora, que surpreendeu:
nos contou que, por nunca ter visto o dólar, ia afixar com alfinetes, este dinheiro num mural em casa.

(Primeira vez, em vida, eu vi alguém não dar importância nenhuma ao dolár!
A moeda forte! Símbolo de poder econômico, mundialmente aceito!
"FECHOU EM QUEDA" na bolsa dela!)

Bem primeira situação resolvida...faltava uma: a vendedora ofendida.

"Mariliaaaaaa..."- desespero.
"Nossa Alice!..."- condenando.
"Como eu vou voltar lá naquela loja pedir desculpas? Vão me bater! vai você."
"Euuuuuu? mas os óculos são teus!"(Que irmã hein? me jogando na fogueira...!)
"Mas Marília..."
(Topando entrar na fogueira...!)

Plano estabelecido: Comprar um cartão, escrever um pedido de desculpas e entregar para a vendedora.
Melhorar o plano: acrescentar uma caixa de chocolate ao cartão. Ninguém resiste ao chocolate.
Plano em prática:
Eu entrei num supetão na loja, fui até a vendedora e antes que pudesse me reconhecer, disse:
"Mandaram pra você!"(Parecia que eu tinha uma bomba na mão. Tá menos dramática: Já brincou de "batata quente"?)

Balanço geral desta parte do plano:
Ela sorriu. Ficou Surpresa.

Saí num outro supetão, maior que o inicial e fomos para fora do Muller.









Nós aprendemos não julgar.
Nem quando temos certeza.
Porque até nossa razão pode nos enganar.
Ah, eu quebrei os óculos uns anos mais tarde, derrubei de cima da estante.
Nãooooo...não acredito em praga da vendedora.
Coincidência.

Foucault, Michel*

2 comentários:

Alice Montiel disse...

Ma DO ceuuuuu...........eu tinha esquecido desse episodio!!!!aquelas vendedoras eram muito malucas! Bjo

Francielle Cristiane Silva disse...

ufaaaa!!! que lição!!!