
Tem pessoas que merecem destaque, consideração, respeito e serem lembradas.
A Julieta me fascina.
Imagina uma mulher negra, nascida em 1919, numa família humilde mas que não se entrega aos problemas, percalços ou preconceitos.
Ela chama Julieta Mercedez Pires Damasceno.
Me fez muita companhia, desde pequena durante as viajens de Iracema.
Uma segunda mãe.
Uma professora.
Contadora de histórias como ninguém.
De fala simples e gestos formidáveis.
Ela completou 89 anos neste 14/04 mas, parece que sua persistência lhe diz, que está nos 30.
Tem uma história dela que me alerta sobre essa lentidão e passividade de muita gente face à um problema.
Vou contar:
Ela , na época da ditadura, cuidava juntamente com seu marido (último) de umas terras, pra um cabo (se não me falha a memória) do exército. Eram amigos ele tava sempre lá. Ela plantava, e dava a parte dele como pagamento ( uma espécie de arrendamento).
Acontece que a Julieta parou de fazer festa, tomar cerveja, assim que tornou-se cristã protestante, e este novo hábito não agradou ao sujeito.
Mandou sairem das terras dele.
Julieta com marido e filhos.
Não queria mais ninguém lá. Amizade acabada e negócio também.
Mas a Julieta Mercedez não acata a ordem.
Insiste.
Lá vem um promotor, comprado pelo "cabra" só pra tirar a teimosa de lá.
Era sair assim: sem nada.
Só com a humilhação.
Um dia ela resolveu que então se nem o promotor a escutava e fazia justiça tinha mesmo é que falar com o Oficial Superior (não sei qual patente específica) do exército.
Mas como ? e nas palavras dela: "Sem estudo como eu chegava nesse homem tão importante? eu não ia ter aquelas palavras bonitas pra explicar a situação pra ele. Mas mesmo assim, era só a gente! homem que tava em casa só fazia era ter medo, não enfrentava as coisas..." (sabe Julieta, pra muitas mulheres, isso, ainda é assim.)
Lá foi ela ...
O Oficial a recebeu.
Descobriu-se que o sujeito, cabra macho, do cabo, tava era usando terras do exército e colocando em seu nome! Ainda por cima ameaçando família.
-"Soldado! Manda chamar o fulano aqui"
E foi um reboliço!!
Eita!! que eu gosto é de gente assim!!
No final das "contas", porque, foi feito as contas ,certinho dos direitos dela , foi possível ter dinheiro e prazo pra sair de lá e reconstruir a vida em outra cidade.
Ahhhhhhh..mas essa é outra história...quanta história!
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