04 julho 2008

Uma vida destruída.

Eu conheci ainda pequena uma família, que não convém citar o nome, por afeto e privacidade, mas, que vale contar a experiência trágica pela qual eles passaram.

Existiu nessa família, um rapaz que desde o início da sua juventude começou beber. E a partir daí estabeleceu uma relação de dependência extrema com o álcool.
Todos os seus dias foram tristes.
Apesar da alegria falsa e da sensação de bem estar, eu tenho certeza que a tristeza o acompanhou até o final da sua vida, enquanto dependente.
Acontece que esta família toda padeceu com essa tristeza.
Porque este hábito, não afeta somente a pessoa que faz uso, mas, principalmente quem esta ao redor dela.
São noites mal dormidas, são brigas sem motivos, são palavras sem consciência e muitas, muitas ausências inexplicadas.

Um certo dia, não faz muito tempo, depois de muito se entregar ao vício, ele caiu de cama.
Consequências fisícas ,daquilo que, aprisionava e maltratava a sua mente.
Foi um triste cenário que assisti, numa visita a ele, e, que transcrevo a seguir:

Em uma cama, exergando quase nada, ele estava consciente , mas rendido ao fracasso, a dor e a doença.
Trocamos algumas palavras, minha mãe , ele e eu.
Sua voz não era mais a que eu sempre escutei - nas visitas à família durante boa parte da minha infância - mesmo quando estava bêbado, o tom era grave.
Agora mal se ouvia.
Os olhos perdidos buscavam um horizonte, uma esperança, uma falha no destino que o fizesse ter mais uma chance.
Como se, se desculpasse, ele tentava nos acalmar, com palavras que mais serviam para ele do que pra nós, naquele momento.
Era o fim?
Não.
Foi o que eu disse a ele, e também:
Que logo, logo ele estaria bem.
Fomos embora. Com uma imagem inacreditável na cabeça.

Passaram alguns dias e eu, precisava protocolar um pedido, junto a Secretaria do Meio Ambiente, para a autorização do corte de uma árvore.
Esta árvore estava destruindo o meio fio e precisava ser removida.
Fui fazer isso, num dia qualquer.
Quando estava a caminho , encontro uma senhora amiga em comum, nossa e dessa família.
Entre um assunto e outro ela me surpreendeu com a notícia da morte deste rapaz, naquele mesmo dia pela manhã.
Foi o fim.

Continuei meu caminho, mas não podia deixar de pensar na situação.
Eu estava solicitando o corte de uma árvore e neste mesmo dia uma vida deixou de existir.
Os motivos: o estrago que alguma coisa pode causar na outra.
No caso da árvore, apesar de sua sombra, ela estava destava destruindo com suas raízes a calçada, meio fio e a rua. Era preciso podar, cortar, arrancar dali.
No caso do álcool, apesar de todo glamour, da idéia de fazer parte do grupo, de consolo, de sua utilidade social, ele foi destruindo aquela vida aos poucos, com raízes sólidas sobre e sob uma alma angustiada, foi tomando conta, se expandindo e tornando frágil o corpo e o espirito.
E assim como a árvore, não foi prejudicial apenas pra calçada, o álcool não foi só pra ele. Assim como ela atingiu o meio fio, sua família foi tocada. Assim como a rua não ficou ilesa, seus amigos foram marcados para sempre.

Não dava mais tempo de fazer nada.

Mas, o tempo, não pode ser culpado por isso e sim todas as pessoas que deixaram a" árvore" crescer no lugar errado e nada fizeram.
Inclusive eu.

Se você pode ajudar alguém, faça.

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