03 julho 2008

O bilhete da Aracélis..


Ela é minha irmã primeira. Não gosto de dizer "mais velha", porque seria injusta, não é tanta idade assim. Está muito bem por sinal!
Morei duas vezes em sua casa, quase três.
Ela tem personalidade!
Passou pro Filipe a mania de rir , quando se está diante de uma situação tensa, mas é uma grande mulher!

Uma vez, quando eu estava "hospedada", por tempo indeterminado, em sua casa, tivemos uma briga , não lembro o motivo, mas devia ser culpa minha. Sem hipocrisia.

Acontece que neste período eu trabalhava numa escola e ganhava bem pouquinho, o que me faz pensar sobre a reprodução do texto da Declaração Universal dos Direitos do Homem, logo na primeira página da minha carteira de trabalho: "..3. Todo o homem que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure , assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana, e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social." Posso dizer que no meu caso sempre foi "necessário" esses "outros meios" e que sempre foram "acrescentados" pela minha família!

Mas continuando: ela me dava tudo: comida, casa , lazer, conselho...(a comida tinha um gosto melhor que o conselho, na época, hoje porêm estou com paladar mais refinado.)
Ocorreu que nesta briga eu bati a porta e fui trabalhar.
Inconsequente.
Depois do trabalho eu ia direto pra faculdade então necessariamente precisava comer.
Mas ao sair, não pensei em muita coisa.

Quando estava no trabalho por volta das quinze horas, eu vi, pela janela meu sobrinho chegando no prédio. Foi até a minha sala e me entregou um bilhetinho e foi embora.:

"(Marília, não se esqueça que já passei por coisas piores que você. E ao contrário do que você pensa me preocupo muito com você! Espero que de tudo certo sempre para você. Você é muito, muito especial.) Sua irmã.

Do outro lado do papel:

"Marilia, não sei se você já recebeu, mas deveria ter ficado com pelo menos um dinheiro para um lanche. Quero que fique com os R$ 10.00 (sei que é pouco) Aracélis

Eu nunca consegui jogar este bilhete fora.
Já se passaram alguns anos...
Eram dez reais mas, valeram pra eu ter certeza de que atitudes, gestos de carinho, amizade, apoio,
compreesão, respeito, não são calculados, nem negociados.
E, sempre tive a certeza, que ela é muito mais especial do que eu penso.

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